"Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém
que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."
Gabriel Garcia Marquez


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Trabalhar pra quê, idiota!


O risco de o meu “desabafo” lhe parecer agressivo é tão elevado quanto o nível da minha indignação. Mas não me preocupa o fato de o meu discurso desagradar ou ofender algum personagem do sistema que, diga-se de passagem, é inoperante, é podre. Considerando que derrubaram a obrigatoriedade do diploma para jornalistas a fim de garantir a liberdade de expressão, me reservo o direito de escrever o que eu quiser e publicar onde eu entender que devo. É o meu direito de cidadã, já que ainda não sou jornalista formada, de me expressar e dizer o que penso.
O Brasil possui três classes sociais bem distintas: a baixa, que são os trabalhadores; a média, que são os mandriões ; e a alta, que são os salafrários.
Comecemos a análise pelo topo da pirâmide, onde está a elite. Obviamente fazer parte do alto escalão da sociedade brasileira tem lá suas vantagens: salário máximo, transporte exclusivo em carro de luxo, moradia, uma multidão de assessores bem pagos, viagens internacionais para a família inteira e, para simplificar, o tal de cartão corporativo para os gastos injustificáveis. Isso tudo rigorosamente dentro da Lei! E o que não é de direito, não significa que seja impossível. Nada que um “ato secreto” bem feito não resolva, não é? Tudo isso para as despesas básicas, para sustentar o padrão de vida da classe alta. Para avolumar o patrimônio das famílias dos salafrários faz-se necessárias outras medidas estratégicas: fraudes em licitações, superfaturamentos, propinas, dinheiro nas meias, nas cuecas e nos paraísos fiscais. Justo! Aliás, justíssimo. Os trabalhos intelectuais e não os braçais são os mais valorizados, é a lei do mercado. Então, essa exorbitância financeira é mais do que merecida. Afinal, representar (governar) as outras duas classes, roubar em grande estilo, burlar a lei e ainda conseguir que ela não seja cumprida não deve ser tarefa fácil mesmo. Deve exigir muito esforço mental dos salafrários (coitados!).
Logo abaixo está a classe intermediária, dos mandriões (os pobres se preferir). Eles vêm logo após os salafrários porque estão diretamente ligados. Um depende do outro. Bom, além de se sustentarem no topo, os salafrários ainda têm que sustentar o sistema. Que responsabilidade! A roda tem que se manter sempre viva: a classe alta tem que elaborar, aprovar e implementar os programas sociais para garantir os votos dos beneficiários e assim manterem-se no poder. Pesquisas recentes do CNI/Ibope comprovam o círculo vicioso. Nos Estados onde os recursos para programas sociais foram maiores, a votação no atual governo cresceu na mesma proporção. Compreensível! Afinal, é uma forma de manter a “teta” e retribuir, de ingratos ninguém pode lhes acusar. Parafraseando o presidente Lula, nunca na história deste país se criou tantos programas sociais. São milhões e milhões de famílias escoradas no paternalismo do sistema. Chego a me confundir com tantos “vales”, por isso não vou cita-los, a probabilidade de deixar algum de fora é eminente. Agora o Senado aprovou o “vale-cultura”. Além de garantir a sobrevivência ociosa, o governo vai garantir também a diversão. Se o dinheiro for mesmo utilizado pelos beneficiários para o fim o qual foi criado o “n” programa social, imaginem quais shows freqüentarão e que tipos de CD’s e DVD’s irão adquirir. Sim, porque livros e materiais educativos, eu duvido!
Nada contra incentivar a cultura! Pelo contrario. Mas antes, faz-se extremamente necessária uma grande reforma na cultura, não de todo o povo brasileiro, mas principalmente da classe intermediária. Agora sim, cada vez mais, lixos culturais como o “Rap das Armas”, por exemplo, vai ecoar Brasil afora.
Investimentos na cultura são bem-vindos, mas não a todo e qualquer tipo de cultura. Entendendo o termo pelo viés da Antropologia, a cultura é a totalidade de padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. Segundo Edward Burnett Tylor, a cultura seria “o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Diante disso, você há de concordar que não é qualquer hábito ou costume que se deve incentivar.
Ao compartilhar minha insatisfação com algumas pessoas de redes sociais virtuais as quais participo, recebi um comentário interessante. O internauta, que não se identificou, disse o seguinte:

“Vai transar? O governo dá a Bolsa-Camisinha;
Já transou? O governo dá a Bolsa-Pílula do Dia Seguinte;
Engravidou? O governo dá a Bolsa-Família;
Está desempregado? O governo dá a Bolsa-Desemprego;
Está preso? O governo dá a Bolsa-Marginal (para sustentar os filhos);
Pertence ao PT ou partido aliado? O Governo dá a Bolsa-Cartão Corporativo;
Agora, experimenta trabalhar, estudar e andar na linha...você vai ganhar uma bolsa de impostos nunca vista na história de nenhum outro país”.

Sobre a “Bolsa-Celular” outra internauta respondeu: “Interessante! A exemplo de muitos brasileiros, eu trabalho dez horas por dia e ganho menos de dois salários mínimos. Eu não tenho direito a nenhum benefício do governo e compro celular, gás, pago conta de luz sem benefício algum. Pra quê esta classe vai querer estudar e trabalhar se há mais incentivo em ficar parado?”. Para concluir, na base da pirâmide, carregando toda a carga, sustentando o alto-escalão e a classe intermediária estão os trabalhadores. Esses são os que acordam cedo todos os dias, trabalham, cumprem com seus compromissos, pagam altos impostos e literalmente pagam pela boa vida dos salafrários e dos mandriões. Então, trabalhar pra quê, idiota? Se não pode virar salafrário vira preguiçoso! Mas se você tem princípios e a sua cultura é trabalhar, é buscar objetivos e ideais de vida, continue na base.

sábado, 5 de dezembro de 2009

E quando a tecnologia torna-se um vício?

Rosângela Tatsch

Este artigo busca trazer à tona reflexões acerca da influencia das novas tecnologias da informação nas interações interpessoais dos personagens da era digital. Entretanto, a intenção é abordar o assunto por um outro prisma, para além das transformações nas formas de sociabilidade.
Portanto, recorremos às pesquisas bibliográficas para analisar a tecnologia quando ela torna-se um vício e acaba emaranhada num paradoxo: a rede mundial de computadores (Internet) e o universo virtual, sem fronteiras e descomedido dos limites de tempo e espaço ao invés de conectar isola.
Comportamentos compulsivos levam pessoas a passarem horas e mais horas navegando. O tempo que os internautas ficam em frente ao computador é assunto entre os especialistas. Eles garantem que vício em tecnologia pode destruir relações. “A tecnologia tem o poder de ser tão viciante quanto álcool e drogas, além de poder destruir relacionamentos pessoais e profissionais”. (John O'Neill, diretor de tratamento de vícios da Clínica Menninger em Houston, Texas). A tese é aceita também entre psicólogos que classificaram o vício em tecnologia como uma doença impulsiva, que pode ser tão danosa socialmente quanto o alcoolismo, vício em jogo e drogas.
Reportagem publicada no site a Rede Globo (G1), em janeiro de 2008 dá conta de que “a organização Internet/Computer Addiction Services localizada em Redmond, que promove programas de tratamento e terapia, estima que entre 6% e 10% dos cerca de 189 milhões de usuários de internet dos Estados Unidos são dependentes de tecnologia.
O’Neill alerta que o uso de mensagem de texto, e-mail e mensagem de voz quando o contato pessoal seria mais apropriado, ou limitar o tempo com amigos e família para verificar e-mails, retornar ligações ou navegar na internet podem ser sinais de relação insalubre com a tecnologia.
Entre as primazias das redes de relacionamentos como blog, msn, orkut e twitter pode-se citar a ampliação nas possibilidades de interação (novas amizades, relações afetivas e contatos profissionais).Esses instrumentos de comunicação também são utilizados como uma espécie de classificado online para divulgar serviços e comercializar produtos, discutir sobre áreas dos mais diversos interesses e ainda economizar nas ligações telefônicas. Entretanto, essas novas ferramentas de intercambio de informações também contribuem para o aparecimento de vários problemas mundiais. Além da dependência, já mencionada, outro exemplo é a negociação e difusão de conteúdos pornográficos e facilitação às praticas de pedofilia e prostituição de menores.
O uso intenso de tecnologia – classificado como “vício” por pesquisadores dificulta o aprendizado de jovens, segundo um estudo publicado recentemente pela instituição britânica Cranfield School of Management. Entre os 260 entrevistados com idades entre 11 e 18 anos, 60% disseram ser “muito” e "bastante" viciados na web, enquanto 50% afirmaram o mesmo sobre seus telefones celulares. Em relação a problemas no aprendizado, 39,3% dos adolescentes admitiram que as abreviações utilizadas em mensagens de textos prejudicam a qualidade de seu inglês, principalmente quando se trata de soletrar as palavras. Além disso, 59.2% reconheceram colocar em seus trabalhos de escola informações retiradas diretamente da internet, sem que para isso o conteúdo fosse lido ou alterado. “Nossa pesquisa mostra que a obsessão pela tecnologia atrapalha o aprendizado, a habilidade para soletrar palavras e encoraja implicitamente o plágio. Apesar de as escolas restringirem a utilização de telefones celulares, os alunos fazem uso desses aparelhos frequentemente, principalmente quando vão ao banheiro. O celular continua sendo o principal canal de comunicação social durante o dia de aula”. (Andrew Kakabadse, professor da Cranfield School of Management).http://www.bastidoresdanoticia.com.br/tecnologia/geral/388-vicio-tecnologia.
Psicólogos que tratam os viciados em Internet acreditam que a pessoa usa a rede mundial para suprir uma carência que tem na vida real.
No Brasil, a Pontifícia Universidade Católica- PUC de São Paulo criou um órgão especial para estudar esta questão. É o NPPI – Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática. Em fevereiro de 2008 a psicóloga Maluh Duprat publicou o artigo “Internet: a tênue fronteira entre o hábito e o vício de navegar”. No texto ela relata que dentre as consultas que chegam ao Núcleo um dos temas mais freqüentes se refere ao polêmico uso compulsivo do computador. “A Internet vem exercendo tal fascínio entre muitos dos seus usuários, que está se tornando, para eles, cada vez mais difícil viver sem ela, criando uma verdadeira dependência, a ponto de definirmos como vício o que parecia ser apenas um hábito.”
A psicóloga reconhece as qualidades do computador. “Uma ferramenta de trabalho das mais comuns e também das mais sofisticadas, pré-requisito para um sem-número de atividades humanas. Em função disso, é cada vez maior o número de pessoas que passam a maior parte do dia diante dessa máquina. Outros tantos, que não a utilizam apenas para o trabalho, mantêm uma extensa rede de comunicação social, absolutamente atualizada, minuto a minuto! Suas virtudes, tanto no campo da informação, como da comunicação em tempo real, são de valor indiscutível. No entanto, surgem suspeitas de possíveis malefícios que o uso contínuo possa estar trazendo aos usuários mais compulsivos”. Segundo ela, não há como distinguir o vício em Internet dos vícios de outra natureza. “ Cria-se dependência por algo que dá prazer, muito prazer.”. Então, em que difere o hábito do vício?
Para Duprat, no hábito não há privação de outras funções ou comportamentos, não ocupamos o espaço de atividades importantes com aquilo de que passamos a depender, seja trabalho, estudo, lazer, contatos familiares e sociais. Temos controle sobre nossos hábitos, não somos controlados por eles. No vício, o controle se inverte, passamos a ser dominados por ele, o prazer que antes era sentido como tal, passa a ser sempre insuficiente e a ocupar o tempo e o espaço de outras atividades prejudicando o usuário em algum nível. “O comportamento do viciado, que geralmente não se admite como tal, costuma tornar-se refratário a todo tipo de crítica, reagindo com rigor a qualquer limitação que se interponha à satisfação de seu vício. O prazer se desloca do bem-estar ocasional para a destrutividade, consciente ou não, de algo com o que não se consegue conviver”.
Mais do que nunca as pessoas passam horas e mais horas na frente de um computador. E, muitas vezes, grande fatia desse tempo é no MSN, Orkut e outras redes de relacionamentos como a “febre” do momento: o Twitter. Daí a importância de uma análise profunda sobre o comportamento dos internautas. Não podemos negar que esses instrumentos são de uma valia incalculável e, não à toa, revolucionaram as formas de sociabilidade. Portanto, as inovações tecnológicas, mais especificamente a internet, tanto pode aproximar quanto isolar as pessoas, depende da maneira como for usada.